O serviço de transporte
público de Natal sempre foi precário. Ônibus de má qualidade, desconfortáveis,
com anos de uso e muito caro. Esse serviço que é uma concessão do município,
nunca recebeu dos poderes públicos a atenção merecida, ou seja, é feita a
concessão a empresários, que em momento algum pensam em prestar um serviço de
boa qualidade à população, apenas pensam nos lucros.
Na contramão da
história, empresários e autoridades públicas, não conseguem enxergar que uma
cidade como Natal, cujo perímetro urbano é um dos menores do país, poderia
servir de modelo neste tipo de serviço, tendo em vista, questões como maior
economia, menos poluição, maior fluidez no trânsito, sem superlotação que daria
inveja a qualquer visitante. Natalenses, muitas vezes sem condições
financeiras, aventuram-se na compra de um carro financiado, para fugir dos
ônibus que leva-nos ao estresse e quiçá a outros problemas mais graves de
saúde, além dos problemas financeiros. Enquanto se discute a questão do
transporte público como uma alternativa econômica e ambientalmente correta,
aqui o transporte público está atrelado a uma visão empresarial retrógrada, na
qual impera o conceito de quanto pior melhor.
O sistema ferroviário
não atende a demanda. Os transportes alternativos e de vans também não, além de
muitas vezes ser operados por pessoas sem a menor qualificação. Enquanto isso,
os empresários de ônibus monopolizam o sistema e impõe seus métodos arcaicos de
serviços e administração.
Agora assistimos a uma
velada orquestração de “vingança maligna”, dos empresários de transportes
públicos de ônibus de Natal, contra os estudantes.
Os estudantes unidos à
população natalense, encamparam no ano passado uma luta, que resultou em grande
vitória, contra o abusivo aumento dos preços das passagens. Não conformados com
a derrota, começaram as medidas que atualmente, estão trazendo sérios prejuízos
para todos os usuários de transportes coletivos da cidade.
O movimento contra o
aumento da passagem do ónibus(Revolta do Busão) ocorreu entre os meses
julho/agosto 2012; Populares, estudantes e outros cidadãos que estavam nas ruas
foram rechaçados pela polícia, e a ação violenta, que gera mais violência,
levou a pessoas em um momento de impulsão e revolta, a atos nunca antes visto
na cidade, como a queima de um ônibus. O sentimento de pacificidade da
população, que é uma construção social que procura negar as lutas populares,
demonstrou seus limites e serve de aviso a autoridades e empresários que vivem
como velhos senhores do período do Brasil colônia.
O fato é que após a
vitória popular, os usuários começaram a ser atingidos pelos empresários de
transportes coletivos, com a conivência das autoridades, com medidas como:
Suspensão das linhas
03, 28 e 45 em setembro do ano passado. Estas linhas tinham em comum o fato de
transportar um grande número de estudantes, que se destinam ao Campus da UFRN,
e IFRN; logo depois, modificação do itinerário da linha 48, que há anos
circulava pela Campus da mesma UFRN; mais recentemente modificação do
itinerário da linha 66 via Campus. Além disso, nota-se uma diminuição do número
de ônibus adaptados para pessoas com necessidades especiais, e pior, os poucos
que circulam pelo Campus, inclusive o raríssimo circular, parece não passarem
por manutenção alguma, tendo em vista que, quase sempre apresentam defeito na
hora que precisam ser utilizados.
Essa situação caótica,
de falta de respeito à pessoa humana, de descaso com o serviço de transporte
público, exige uma providência urgente dos órgãos responsáveis e das
instituições envolvidas, como a própria UFRN, que corre o risco de ver seus
alunos apresentarem prejuízos acadêmicos em virtude do desgaste causado pela
demora nas paradas, atraso na chegada ao horário de aula, no retorno para casa
e para outras atividades.
Luis Pereira
Aluno do Curso de
Ciências Sociais da UFRN.